Como Jogar com Deuses e Criar Seu Próprio Sistema

Os panteões mitológicos — deuses gregos, nórdicos, egípcios e muitos outros — sempre fascinaram a imaginação humana. São histórias de poder, intriga e moralidade, cheias de figuras divinas poderosas que moldam o destino dos mortais. Agora, imagine trazer essas divindades para sua mesa de RPG, onde os jogadores podem interagir, interpretar e até mesmo enfrentar os deuses mitológicos! Existem alguns sistemas dedicados a essa temática, mas também é possível criar seu próprio jogo se não encontrar algo específico para o panteão que você quer explorar. Vamos mergulhar nessa aventura!

Sistemas de RPG Baseados em Divindades Mitológicas

Embora não sejam muitos, alguns sistemas de RPG permitem que os jogadores explorem o mundo das divindades mitológicas, oferecendo mecânicas específicas para lidar com o poder dos deuses e sua influência sobre o destino dos mortais. Abaixo estão os mais populares:

  1. Scion

Um dos sistemas mais conhecidos que lida diretamente com panteões mitológicos é o Scion, publicado pela Onyx Path Publishing. O jogo coloca os jogadores no papel de “Scions”, filhos semidivinos de divindades de panteões clássicos como o grego, o nórdico, o egípcio e o celta. Neste sistema, os personagens começam como mortais com poderes divinos, mas à medida que avançam na campanha, podem ascender e eventualmente se tornarem deuses completos.

Scion se destaca por ter uma mecânica robusta de mitologia e por dar bastante liberdade aos jogadores para criar personagens únicos com base nas lendas e poderes de seus pais divinos. Além disso, oferece regras específicas para a interação entre deuses, mortais e o mundo físico, permitindo que o impacto das ações divinas seja sentido em todos os níveis da narrativa.

Link: Scion

  1. Deities & Demigods (D&D 3.5 e AD&D)

Embora Dungeons & Dragons (D&D) não seja especificamente voltado para mitologia real, o suplemento Deities & Demigods (originalmente publicado para Advanced Dungeons & Dragons e depois adaptado para D&D 3.5) fornece regras para incluir deuses e divindades de diferentes panteões em suas campanhas. Este livro clássico oferece detalhes sobre como criar deuses com base em mitologias gregas, egípcias, nórdicas e muito mais, além de sugestões para jogar como personagens divinos ou enfrentar deuses em combate.

Esse sistema é ideal para mestres que querem adaptar os panteões mitológicos clássicos ao universo de D&D, permitindo que os jogadores interpretem personagens mortais ou até mesmo ascendam ao status de divindade.

Link: Deities & Demigods

  1. Mythic Odysseys of Theros (D&D 5ª Edição)

Para os fãs de D&D 5ª edição, o suplemento Mythic Odysseys of Theros transporta os jogadores para um cenário inspirado na mitologia grega. Embora seja um universo fictício, ele carrega muitas influências dos deuses gregos, e os personagens podem receber bênçãos divinas, lutar contra criaturas mitológicas e se envolver em histórias épicas de ascensão e queda de heróis. Não lida diretamente com panteões mitológicos reais, mas serve como uma ótima base para campanhas com temática divina.

Link: Mythic Odysseys of Theros

  1. Godbound

Para uma pegada mais sandbox e com menos restrições, o sistema Godbound, da Sine Nomine Publishing, oferece aos jogadores a chance de interpretar personagens que são deuses em um cenário de fantasia épica. Embora não seja baseado em mitologias reais, o jogo permite muita customização e pode ser facilmente adaptado para incluir deuses e panteões específicos. Sua mecânica é baseada na ideia de que os personagens são avatares de poderes divinos, e seu sistema flexível pode ser moldado para acomodar mitologias como as gregas, nórdicas ou egípcias.

Link: Godbound

 

Se você não encontrar um sistema pronto que se encaixe no panteão ou nas divindades específicas que deseja explorar, criar seu próprio jogo é uma excelente opção. Fizemos isso recentemente no universo do Cursed Nights e deu super certo! Aqui estão alguns passos e dicas para desenvolver um sistema de RPG focado em divindades mitológicas:

  1. Escolha o Panteão e Defina o Tom

O primeiro passo é escolher o panteão que você deseja explorar. Se seu foco for na mitologia grega, por exemplo, o tom pode ser dramático e cheio de intriga, refletindo a natureza emocional e intensa dos deuses gregos. Já um jogo baseado no panteão nórdico pode ser mais brutal e focado em batalhas épicas e destinos inevitáveis, enquanto um jogo no panteão egípcio pode lidar com questões de morte, renascimento e justiça divina.

Cada mitologia traz suas próprias características, então pense em como elas influenciarão a narrativa do jogo.

  1. Defina os Papéis dos Jogadores

Os jogadores serão deuses completos, semideuses ou mortais que interagem com as divindades? Definir o papel dos jogadores é crucial, pois isso vai determinar o tipo de narrativa e os desafios que enfrentarão.

Semideuses: Jogar como filhos de divindades pode ser interessante, pois eles têm poderes, mas ainda são limitados e precisam lidar com sua humanidade.

Mortais Escolhidos: Os jogadores podem ser heróis mortais escolhidos pelos deuses para realizar grandes feitos, recebendo bênçãos e maldições ao longo de suas jornadas.

Deuses Completos: Nesse caso, a narrativa pode focar em questões divinas, como disputas pelo controle dos mortais, batalhas entre panteões ou até mesmo problemas internos entre os deuses.

  1. Crie Mecânicas de Poder Divino

Se os personagens forem semideuses ou deuses, você precisará criar mecânicas para representar seus poderes divinos. Isso pode incluir:

Bênçãos e Maldições: Os deuses podem conceder poderes especiais aos personagens mortais ou uns aos outros, mas também podem impor maldições que afetarão suas ações e relacionamentos.

Domínios Divinos: Assim como em sistemas como Scion ou Deities & Demigods, cada deus ou semideus deve ter poderes relacionados a um domínio específico (como guerra, amor, sabedoria, morte, etc.). Esses domínios podem influenciar as habilidades e ações dos personagens.

Interferência Divina: Os personagens devem ser capazes de influenciar o mundo mortal de forma direta. Isso pode incluir interferir em batalhas, manipular o destino dos mortais ou até mesmo alterar as forças da natureza.

  1. Desenvolva Conflitos e Tramas Épicas

As histórias mitológicas são frequentemente alimentadas por conflitos épicos, seja entre deuses e mortais ou entre os próprios deuses. No seu sistema, crie tramas que reflitam essas lutas. Pode haver uma guerra entre panteões, como os deuses nórdicos lutando contra os gregos, ou uma intriga interna onde Zeus tenta derrubar Hades pelo controle do submundo.

Os jogadores podem ser heróis escolhidos para lutar em nome de seus deuses, ou semideuses tentando mediar a paz entre os panteões.

  1. Incorpore Elementos Mitológicos nos Cenários e Personagens

O mundo onde o jogo acontece deve refletir os mitos e lendas do panteão escolhido. Adicione criaturas mitológicas (como hidras, minotauros, ou dragões nórdicos), locais lendários (como o Monte Olimpo, o Valhalla ou as Pirâmides de Gizé), e NPCs (como heróis, sacerdotes e monstros mitológicos) para criar uma atmosfera imersiva.

Explorar o universo das divindades mitológicas através do RPG pode levar a campanhas inesquecíveis. Seja usando sistemas já prontos como Scion ou Godbound, ou criando suas próprias regras e narrativas, a chave para uma boa campanha de mitologia é capturar o drama, a grandiosidade e as questões filosóficas que sempre rodeiam essas histórias. Então, escolha seu panteão, crie seus heróis (ou deuses), e prepare-se para moldar o destino do universo!

 

Essa matéria foi escrita por:
Marcelo Cury

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