“O segredo da vitória está em conhecer a si mesmo e a seu inimigo.” Sun Tzu
Bem-vindo Aspira, você já se perguntou o que passa na cabeça daqueles seres estranhos que adoram combos, interrogar npcs e fazer longos monólogos?
Hoje vamos estudar esta raça infame conhecida como “player/jogador” e descobrir o que de fato eles querem, onde vivem e o que buscam.
E a partir disso, você finalmente pode entender o porquê eles são tão chorões e montar algo que faça eles pararem de reclamar da “falta de algo empolgante na mesa….”.
Quais são as classes de jogadores?
Vamos separar nossos jogadores em alguns tipos e estudá-los.
Power Gamer: busca realizar combos, builds (combinações de classe, talentos e poderes) e min-max (maximizar vantagens e minimizar desvantagens), adora uma ficha cheia de poderes e itens mágicos.
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O que ele quer?
– Poderes, itens mágicos e regras claras e bem definidas – Capacidade de conseguir mais poderes – Usar estes poderes sem ter a chance de ser limitado pelo Narrador
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Chutador de Bundas: quer rolar o dado e matar monstros, não se importando muito com o que aparecer no caminho, gosta de classes simples e diretas.
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O que ele quer?
– Combates, muitos combates – Uma ficha simples, onde ele possa ler rapidamente e rolar os dados sem se preocupar com regras.
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Tático: Gosta de manobrar o time, buscando usar cada jogador de forma mais efetiva, seu maior objetivo é uma vitória com menor ou nenhum risco.
Vibra quando consegue vencer um encontro sem combater ou quando suas táticas funcionam. |
O que ele quer?
– Chance de criar planos elaborados – Regras que sejam claras para que ele possa planejar sobre elas.
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Especialista: o personagem “ninja” que sempre joga de assassino ou alguém que sempre pega o bardo, o especialista gosta de uma determinada classe e arquétipo e busca sempre ocasiões para fazer aquilo que sabe melhor, usar suas habilidades.
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O que ele quer?
– Usar suas habilidades de classe – Jogos onde ele possa encontrar sua classe favorita – Ser capaz de fazer de fazer suas ações e cenas com grandes chances de sucesso. |
Ator Metódico: adora inventar personalidades diferentes, gosta de interpretar e viver a história do personagem. A chance de mostrar a personalidade e interagir com NPCs é seu maior prazer.
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O que ele quer?
– Interpretar seu personagem – Várias cenas de interação – Pouca ou nenhuma regra que tome tempo de jogo |
Historiador: Gosta de ver o mundo, explorar e conhecer mais da história ou cenário. Para ele tudo deve ser coerente, fazer sentido. Gosta de ver a história se desenrolando e fica frustado caso ela não avance.
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O que ele quer?
– Um mundo detalhado e que seja impactado por suas ações. – Chances de conhecer e interagir com o mundo – Missões com propósitos definidos – Marcos e Eventos que mostrem o avanço do grupo na história |
Casual: Está jogando porque todos estão jogando, seja por ter sido convidado, ser conhecido de um dos jogadores ou apenas para passar o tempo.
Não deseja se envolver muito com fichas, regras, apenas estar com o grupo. |
O que ele quer?
– Não precisar lidar com regras ou decisões – Não ser o centro das atenções ou forçado a participar. |
O Equilíbrio entre o Macio e a Crocância
Os jogos podem ser divididos em dois tipos baseado em um fator de “flexibilidade de regras”.
Jogos onde as regras são flexíveis e o Narrador pode interpretá-las são considerados “Fluffy” (algo como Macio ou Mastigável) enquanto regras rígidas e bem definidas são “Crunchy” (algo como Crocante).
Jogos como Dungeons and Dragons e seus variantes possuem várias regras que são aplicadas ao pé da letra (RAW – Read as Written ou “Lido como Escrito”) enquanto jogos como Fate possuem regras interpretativas e abstratas, isso afeta os jogadores ao dar a eles certeza sobre a extensão dos seus poderes e como funcionam ou se o Narrador que irá definir como eles funciona.
Quanto mais “regrado” for um jogo, mais controle os jogadores tem sobre seus personagens, enquanto jogos menos regrados entregam esse poder ao Narrador.
Abaixo nós indicamos qual tipo de jogo cada Player prefere:
Regras favorecem o Narrador
(Fluffy) <<<————————-
- Historiador
- Especialista
- Chutador de Bundas
- Especialista
Regras favorecem os Jogadores
(Crunchy) ———————–>>>
- Ator Metódico
- Tático
- Power Gamer
- Tático
Emotional Kicks ou Ganchos Emocionais para prender os Players
Apesar da descrição, todos os jogadores caem em uma multiclasse em dois ou mais tipos.
Tentar categorizar os jogadores e buscar os pontos mais comuns pode ajudá-lo a encontrar o que eles buscam em seu jogo.
Além disso, você pode perguntar diretamente a eles sobre o que querem ver no jogo, quais suas preferencias como filmes, livros e jogos para traçar um perfil aproximado de cenas, enredos, personagens e situações que eles gostam e do que não gostam.
Busque incluir referencias, NPCs, missões, enredos e situações que sejam familiares para que eles se empolguem e peça que eles o ajudem escrevendo uma ou mais missões pessoais que eles possam cumprir dentro do cenário.
Ex:
Jogador | Tipo de Jogador | Emotional Kick | Prefere | Não Gosta |
Felipe | Power Gamer | Enfrentar gigantes | Hack’n’slash | Conversas longas |
Fábio | Tático | Infiltração | Resgate | Ser forçado a lutar |
Elis | Method Actor | Interpretar um santo andarilho | Resgate | Que sua história seja ignorada |
Carlos | Tático | Usar magia para vencer sem lutar | Resgate | Não poder usar magia |
E quais são os tipos de aventura que posso usar?
Existe uma relação geral de histórias, apesar de existirem muitas outras, elas embarcam de modo geral o enredo e o clima em um único pacote.
- Aventura
- Conspiração
- Espionagem
- Hack’n’Slash / Matar e Pilhar
- Horror
- Politico
- Militar
- Resgate ou Fuga da Prisão
- Ambição por Tesouro
- Expedições ao Desconhecido
- Desastre Natural
- Enigma
- Romântico / Amor trágico
- Perseguição
- Vingança
- Revolta
(Retirado do Jogo 7th Mar)
E no caso de Oneshots?
Busque preparar uma cena de cada pilar do jogo (Exploração, Desafio e Combate) e algumas extras para incluir caso sinta que o grupo está buscando.
Faça fichas focadas nos tipos principais de jogadores e conforme eles forem escolhendo, voce vai ter uma ideia do que eles querem jogar.
- Fichas com muitos poderes e habilidades indicam um Power Gamer.
- Fichas simples de combate como Bárbaros ou Magos de Dano indicam Butt Kickers.
- Fichas especializadas como Ninjas ou Feiticeiros Ilusionistas indicam Especialistas.
- Fichas que possuem personagens que fogem do estereotipo indicam Atores.
- Fichas com foco em Liderança como Ex-Militares, Paladinos ou Clérigos podem indicar Tacticians.
- Se o jogador pegar uma ficha e inventar um passado cheio de história para o personagem indicam um Storyteller.
Jogando Seguro
Para segurança de todos e principalmente do Narrador, esteja ciente de que existem ferramentas para evitar constrangimentos e problemas com gatilhos por parte de jogadores.
- Um jogo de rpg precisa ser confortável a todos, agora que sabemos o que eles querem, precisamos saber o que não querem.
- Uma conversa para saber o que eles não se sentem confortáveis na mesa vai evitar dor de cabeças.
- Suas preferencias também valem, se os jogadores se sentirem constrangidos, dê o exemplo mostrando quais assuntos você se sente desconfortável em falar e quais devem ser evitados.
- Se estiver perdido, um formulário chamado Consentimento para RPG possui uma lista de temas que podem ser delicados e pode servir de base ou ser distribuído.
- Caso esteja com jogadores que não conheça, pode usar também o sistema X-Cards.
Contatos de Primeiro Grau
Vai jogar uma campanha?
Faça uma boa sessão 0, nada apenas de criar fichas, converse sobre o tipo de história que vai narrar, evite surpresas desagradáveis, você pode adorar incluir diversas ameaças como familiares reféns e cidades natais destruídas, mas é melhor deixar claro do que esconder a reviravolta e sofrer com uma mesa sendo abandonada por jogadores desmotivados.
A sessão 0 serve para alinhar as EXPECTATIVAS do grupo com a do Narrador, se vocês não estiverem em sintonia com o tipo de jogo, temas e enredo, vai gerar apenas dor e frustação.
Acima de tudo seja honesto, um roteiro pode ter reviravoltas impressionantes, mas uma história de aventura que esconde uma dungeon letal com certeza vai desapontar aquele seu grupo que queria apenas relaxar no final de semana e interpretar os arruaceiros locais.
Em caso de dúvidas, existem checklists disponíveis na internet para sua sessão zero que incluem sobre regras da casa, uso de regras oficiais e qual tipo de clima, divisão de XP, Morte Permanente e outros vão ser aplicados.
Ninguém fica para trás!
Vai narrar para pessoas que possuem algum tipo de deficiência e precisam de acessibilidade?
- Para Dislexia, use fichas adaptadas com símbolos ao invés de palavras ou fichas especiais.
- Para Daltonismo, atenção em escolher dados com cores que não estejam na categoria do Daltonismo da pessoa.
- Para Pessoas com problemas de Visão, use dados com cores contrastantes e grandes e fichas com Letras Grandes.
- Pessoas Cegas podem usar Aplicativos de Leitura para a ficha ou alguém que auxilie e Teatro da Mente no lugar de miniaturas.
- Evite usar descrição de doenças mentais e deficiências para os monstros, isso evita que a pessoa se sinta identificada através das analogias.
- Converse com a pessoa deficiente sobre o que ela se sente e evite piadas na mesa sobre a deficiência.
- Mesmo que todos estejam rindo, muitas pessoas acabam aprendendo a “esconder” seu desconforto rindo da situação, isso não torna nada melhor.
- Procure locais que sejam acessíveis no caso de cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida.
- Para mais informações, é recomendado o Fate Accessibility Toolkit.
Vou narra uma mesa exclusiva!
Crianças?
- Escolha sistemas simples
- Não faça suas aventuras Railroad, crianças tem criatividade de sobra para inventar, aproveite para explorar.
- Se possível, escolha temas que eles conheçam, como series de TV, animes, jogos ou filmes.
- Use descrições curtas e simples, evite ser abstrato, abuse de gestos para explicar coisas
- Foque em criar aventuras cheias de Plot Twists e mantenha os objetivos simples
- Controle o tempo de mesa, mantenha os turnos curtos e o ritmo da ação para evitar a dispersão de atenção.
- Não subestime a capacidade das crianças, não faça aventuras muito fáceis.
- Prefira dados que tenham pontos ao invés dos números para crianças que ainda não dominem a numeração decimal.
- Existe sistemas voltados as crianças, como jogos minimalistas The Black Hack, Threadbare, Bubble-gumshoe e Fate Acelerado que são boas introduções.
Bibliografia Indicada:
Medusa Guide for Gamer Girls – Playing with Kids
Foto capa: Felix Mittermeier no Pexels