Jogos e frustração – Uma combinação necessária

Você chega em casa depois de um dia cansativo, conseguiu fugir da chuva que te acompanhou quase que completamente no caminho até em casa, tira as roupas sociais apertadas que seu trabalho exige que use, coloca algo confortável e pega a sua bebida preferida. Assim que você se joga no sofá e pega o controle do seu console, exaurindo uma respiração pesada e pega algo para jogar e relaxar, passeia um pouco pela sua biblioteca e decide iniciar um jogo: Dark Souls.
Para muitos, essa história termina de um jeito confuso, até mesmo errado. Afinal, como alguém que quer relaxar ou se distrair buscaria um jogo com alta dificuldade de gameplay, geralmente trazendo frustração, ou até mesmo raiva, para aqueles que estão jogando.
Mas o que buscamos quando pegamos um jogo nas mãos? Como seria se um jogo não te oferecesse nenhuma chance de falha? Como jogar Super Mario sem inimigos ou buracos, apenas moedas e bandeiras no final de cada fase? Como seria jogar God Of War sendo invulnerável e destruindo todos seus inimigos com apenas um golpe, em um corredor eterno sem nenhum tipo de puzzle?
Parando para pensar, existe esse ponto em que cada um de nós se sente confortável em jogar um jogo, esse momento onde existe grande imersão na atividade que estamos fazendo que tanto nos trás prazer.
Te introduzo aqui o conceito de Flow.

Flow

O conceito de flow foi proposto pelo psicólogo húngaro chamado Mihaly Csikszentmihalyi (tá tudo bem, a gente também não sabe pronunciar o nome dele). Ele define esse conceito como sendo um estado mental de alta concentração e imersão onde a pessoa tem essa sensação de envolvimento enorme no processo de atividade.
Eu garanto que você já esteve nesse ponto de flow muitas vezes, e não apenas jogando videogame, afinal, quantas vezes você estava assistindo um filme que te interessou tanto que você esqueceu por horas que na verdade estava sentado em uma cadeira na frente de um projetor ou de uma televisão?
Para o estado de flow ser constante e satisfatório, o jogador tem de ter um desafio posto à sua frente que não seja fácil demais a ponto de ser banal, assim como não sendo difícil demais ao ponto de ser impossível, em ambos os casos fazendo o jogador desistir de um jogo que se tornou desinteressante. Quando você realiza uma série de problemas e naturalmente melhora suas habilidades no jogo, as portas fechadas a sua frente agora tem de ser mais difíceis de serem abertas, se não acabamos caindo de volta no problema de ser banal.
Claramente, essas sensações são muito subliminares e acontecem de forma diferente para cada pessoa, o que eu vejo como frustrante, você leitor pode não concordar, e vice-versa. Essa incerteza é algo que um jogo tem que lidar para atingir o máximo de pessoas possível, ampliando seu público e facilitando seu acesso. Uma das mais antigas formas de mitigar isso, desde o Atari 2600, foi o então criado o conceito de seleção de dificuldade.

Seleção de dificuldade

Se você é do mundo dos videogames, você com certeza já se deparou com uma tela de seleção de dificuldade ao iniciar seu jogo, algo como essa aqui:
Com essa opção, o game designer então se depara com a missão de modificar algumas variáveis do jogo para fazer com que o nível de desafio se modifique permanentemente para jogadores que escolheram diferentes níveis, sem modificar a experiência de jogar o jogo. Mas, tal escolha pode não refletir exatamente deixar o jogo mais fácil ou mais difícil para todos os jogadores, já que sabemos que as pessoas veem desafios de modos muitos diferentes, por exemplo, a quantidade de zumbis em um jogo como Resident Evil 4 pode variar entre o modo fácil ou modo difícil, mas talvez para um jogador específico a dificuldade esteja mais na necessidade de acertar a cabeça deles para ser efetivo, não na quantidade deles.
Alguns outros jogos preferem então introduzir o que podemos chamar de dificuldade dinâmica.

Dificuldade Dinâmica

No caso de dificuldade dinâmica, nós temos um elemento de mudança de desafio conforme você joga o jogo de um certo modo ou conforme você progride no jogo. Isso fica bem claro em Final Fantasy XV, por exemplo, com o monstro Deadeye, que faz com que andar com chocobos pode ser perigoso e atrair a presença do monstro, enquanto jogadores mais avançados na trama já teriam matado este monstro e aceleram suas viagens pelo mapa livremente, agora podendo montar em chocobos.
Um outro jogo que utiliza modos de dificuldade dinâmica é Zelda: Breath of the wild. O jogo faz com que os monstros de certo tipo fiquem mais fortes caso você sempre o cace, forçando a variedade de monstros caçados ou aumentando o desafio para quem quer se tornar um jogador melhor e mais rápido, como speedrunners ou apenas pessoas que gostam de desafios.
Existem muitos modos de se alcançar o estado de flow de diversos jogadores, alguns que nem cobrimos nesse artigo, fazendo do jogo mais dinâmico e mais interessante para uma gama maior de pessoas, mas o fato de que frustração faz parte da nossa diversão como jogadores, é super real, afinal, um jogo sem nenhum desafio, é apenas chato. Mas e você? Que tipo de desafio busca quando se encontra na frente do console? Já parou pra pensar?
Essa matéria foi escrita por:
Gabriel Pelussi

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